Realmente, não creio na alma humana, nem nunca cri. Tenho a convicção de que as pessoas são como as malas: cheias de coisas diversas, são expedidas, atiradas, empurradas, lançadas ao chão, perdidas e reencontradas, até que, por fim um Último Transportador as atira para o Último Comboio.
Katherine Mansfield
Por que eu sou do tamanho do que vejo. E não do tamanho da minha altura. (Fernando Pessoa)
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
A gente se apaixona pelo jeito da pessoa. Não é porque ele cita Camões, não é porque ela tem olhos azuis: é o jeito dele de dizer versos em voz alta como se ele mesmo os tivesse escrito pra nós; é o jeito dela de piscar demorado seus lindos olhos azuis, como se estivesse em câmera lenta.
O jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de passar a mão no cabelo. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito de sorrir. Vá tentar explicar isso.
Martha Medeiros
O jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de passar a mão no cabelo. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito de sorrir. Vá tentar explicar isso.
Martha Medeiros
Às vezes me lembro dele. Sem rancor, sem saudade, sem tristeza. Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou. Nunca mais o vi, depois que foi embora. Nunca nos escrevemos. Não havia mesmo o que dizer. Ou havia? Ah, como não sei responder as minhas próprias perguntas! É possível que, no fundo, sempre restem algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a investigar — e principalmente a fingir. Fingir que encontra. Acho que, se tornasse a vê-lo, custaria a reconhecê-lo.
C.F.A
C.F.A
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Pequeno grande amor
que gerou toda sorte de reflexão
se fosse apenas um pequeno amor
passaria longe do meu epicentro
se fosse um grandíssimo amor
estaria tudo ao meu redor devastado
mas foi um pequeno grande amor
daqueles que têm tamanhos para todos os lados
e só podem ser medidos por dentro.
Martha Medeiros
que gerou toda sorte de reflexão
se fosse apenas um pequeno amor
passaria longe do meu epicentro
se fosse um grandíssimo amor
estaria tudo ao meu redor devastado
mas foi um pequeno grande amor
daqueles que têm tamanhos para todos os lados
e só podem ser medidos por dentro.
Martha Medeiros
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Sinto falta de ter sido qualquer coisa certa, boa, que não fui. Ninguém me avisou do desvio no caminho e muito menos das descobertas feitas sobre o inevitável de cada um que surge. Nem lembro quando foi que permiti essas invasões sendo que ninguém nunca devolveu nada, nem a companhia e as palavras. Surgiu, qualquer chama, que vem e vai, me leva e traz, como se soubesse que não sei mais remar a favor ou contra.Barco parado, ao sabor dos acasos.
Camila Meneghetti
Camila Meneghetti
terça-feira, 15 de setembro de 2009
"Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de fruta em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e o do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você."
C.F.A
C.F.A
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Ana encontrou Beatriz inerte na janela azul, quase não se diferenciava, Bia tinha emagrecido muito, seu rosto ficara com o aspecto azulado da paisagem, da janela, da vida que vinha levando.
-Me contaram algumas coisas sobre você, Bia. - Ela silenciou esperando a resposta alheia, mas o silêncio prevalecera como de costume entre as duas naqueles tempos amargos. - Tenho andado preocupada contigo.
-Tu sabes que não tem necessidade para essas preocupações tolas.- Respondeu friamente.
Ana respirou fundo e deixou o olhar caminhar pelo quarto, tudo continuava arrumado, como se ninguém tocasse nos objetos a dias.
-Já faz algum tempo que aconteceu e tenho te visto triste, tu não eras assim.
-Já ouvisse falar que como os costumes, as pessoas também mudam?
-Não precisa ser áspera comigo, não depois do que eu fiz por ti.
-Queres um sorriso como forma de recompensa?- Bia falou a encarando séria, caminhou ao encontro de Ana na aparência de um fantasma quando perambula pela vida. - Será que não compreende que para mim a vida se tornou um peso? Não sou igual a ti, aos outros, não sei superar as coisas.
-Você nem quis tentar, prefere se tornar uma pessoa...
-Inconviniente? Eu sei, não te cales, acha que não percebo os esforços para me tirar deste quarto? Desta melancolia? Só que não quero. Perdi o que de mais importante eu tinha, me sinto agredida. E era necessário para gostar disso, que chamam de vida e agora encaro apenas como uma palavra.
-Quem morreu não foi tu,mas aparentemente vejo uma morta na minha frente.
-Então vá embora, teu ar cheira a qualquer coisa colorida e aqui não necessito mais dela.
-Teu ar é de demência, Bia. É covardia, desde pequena fostes covarde e neste exato momento fica agindo como uma criança, procurando atenção.
Ana enxugou as lágrimas e a olhou longamente.
-Tentei tanto recuperar qualquer coisa em ti, mas é impossível.
Beatriz sorriu e disse.
-Parabéns, toma tua recompensa e vai viver entre os vivos.
Camila Meneghetti
-Me contaram algumas coisas sobre você, Bia. - Ela silenciou esperando a resposta alheia, mas o silêncio prevalecera como de costume entre as duas naqueles tempos amargos. - Tenho andado preocupada contigo.
-Tu sabes que não tem necessidade para essas preocupações tolas.- Respondeu friamente.
Ana respirou fundo e deixou o olhar caminhar pelo quarto, tudo continuava arrumado, como se ninguém tocasse nos objetos a dias.
-Já faz algum tempo que aconteceu e tenho te visto triste, tu não eras assim.
-Já ouvisse falar que como os costumes, as pessoas também mudam?
-Não precisa ser áspera comigo, não depois do que eu fiz por ti.
-Queres um sorriso como forma de recompensa?- Bia falou a encarando séria, caminhou ao encontro de Ana na aparência de um fantasma quando perambula pela vida. - Será que não compreende que para mim a vida se tornou um peso? Não sou igual a ti, aos outros, não sei superar as coisas.
-Você nem quis tentar, prefere se tornar uma pessoa...
-Inconviniente? Eu sei, não te cales, acha que não percebo os esforços para me tirar deste quarto? Desta melancolia? Só que não quero. Perdi o que de mais importante eu tinha, me sinto agredida. E era necessário para gostar disso, que chamam de vida e agora encaro apenas como uma palavra.
-Quem morreu não foi tu,mas aparentemente vejo uma morta na minha frente.
-Então vá embora, teu ar cheira a qualquer coisa colorida e aqui não necessito mais dela.
-Teu ar é de demência, Bia. É covardia, desde pequena fostes covarde e neste exato momento fica agindo como uma criança, procurando atenção.
Ana enxugou as lágrimas e a olhou longamente.
-Tentei tanto recuperar qualquer coisa em ti, mas é impossível.
Beatriz sorriu e disse.
-Parabéns, toma tua recompensa e vai viver entre os vivos.
Camila Meneghetti
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
terça-feira, 8 de setembro de 2009
domingo, 6 de setembro de 2009
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Mesmo assim eu não esquecia dele. Em parte porque seria impossível esquecê-lo, em parte também, principalmente, porque não desejava isso. É verdade, eu o amava. Não com esse amor de carne, de querer tocá-lo e possuí-lo e saber coisas de dentro dele. Era um amor diferente, quase assim feito uma segurança de sabê-lo sempre ali.
C.F.A
C.F.A
Parece-me agora, tanto tempo depois, que as partidas-dolorosas, as amargas-separações, as perdas-irreparáveis costumam lavrar assim o rosto dos que ficam. E do buraco negro da memória que ocupa o espaço anteriormente ocupado por esta pessoa - sim, era uma pessoa que não lembro - , em vez de faces, jeitos, vozes, nomes, cheiros, formas, chegam-me somente emoções confusas ou palavras como estas - doloroso, amargo, irreparável.
C.F.A
C.F.A
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode praver, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça...ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário...por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
Caio Fernando Abreu
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça...ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário...por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
Caio Fernando Abreu
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