segunda-feira, 29 de junho de 2009

Tenho pensado tanto na morte, não que eu queira, mas não posso evitar.É que somente esse ano descobri de verdade o amor, um amor que ficava tão escondido em mim, mas tão profundo que por vezes eu chegava a acreditar que nem existia.
Tenho amado tanta gente e é tão intenso, que me dói sempre que penso nisso. Olhos as fotos, os emails, as lembranças e o meu peito vai ficando pesado, o ar faltando. Mas não choro, tenho criado o hábito de não chorar.
E se eu perder essas pessoas? O que vai ser de mim? E se eu me perder delas? O que vai acontecer com todo esse amor que eu descobri? E que ninguém sabe, porque eu não acho direito que saibam só agora deste meu desdobramento para o amor.
Tenho a impressão de que não acreditam que sinto falta deles.
E isso, sem sombra de dúvida é o que mais me entristece, quero tanto que tenham certeza do meu amor por eles, mas eu não sei falar essas coisas. Então eu sempre me calo e me isolo.

Fica a dica, amo vocês.
Camila Meneghetti

sábado, 27 de junho de 2009

Tudo em ti era uma ausência que se demorava: uma despedida pronta a cumprir-se.
Cecilia Meireles
"Tenho uma vontade besta de voltar, às vezes. Mas é uma vontade semelhante à de não ter crescido."

C.F.A
Tenho saudade de quando ás férias incluiam filme e chocolate. Depois deitava na grama, evitando o sol e ria e amava e era feliz, compreende?
Pedaços de felicidade.
Vem que tenho saudade do quarto, das figuras, do não ter, do não precisar e do omitir.
Vem que eu preciso sentir de novo cada discussão, cada riso, abraço e silêncio.
Vem que me dói por dentro tua falta, a não preocupação, a doença.
Vem que já não posso mais essa solidão, essa insegurança, essa pobreza de espírito que invade as pessoas aqui, que faz com que todo mundo enlouqueça.
Vem que eu quero sair da loucura, vem por dois minutos ser qualquer coisa, o vento, o tempo, o beijo, você.


Camila Meneghetti

Para uma menina com uma flor


PARA UMA MENINA COM UMA FLOR

" Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas.

E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor. "

Vinicius de Morais
Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.
. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim - para não querer, violentamente não querer, de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura."

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Vagou inquieta pelo quarto. Era feriado. Se fumasse, acenderia um cigarro para ficar com ar de pessoa distraída. Mas assim tão sem vícios e portanto sem ter sobre o que derramar a distração que desejava, ai - assim ficava tão solta. Perdeu até o sono, suspirou, como se o sono fosse a sua última reserva de segurança. Isso não é hora pra ler, acrescentou. E estava com preguiça de trabalhar e tinha vontade de falar um palavrão, que merda também. Sem sentir conseguira a distração que procurava. Mas agora que chegava a ela, consciente de que chegara, a distração se esgotava. Fazia-se necessário ir adiante. Mas o que vinha depois de uma distração? Não tinha em que nem como se concentrar. Nunca tivera instrumentos para forçar a atenção num determinado ponto. Era tão pobre. Tão..."

Caio Fernando Abreu
"Meu conselho:se não dá para sair do Brasil, saia de sua cidade.Mas,se houver a chance, saia do país. Não há muitos que sentem necessidade de morar fora. O curioso é que,quando saem, em geral são bem-sucedidos."



Carlos Ghosn, brasileiro, CEO da Nissan e da Renault - dezembro 2003

terça-feira, 23 de junho de 2009

"Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo. "


Pablo Neruda

terça-feira, 16 de junho de 2009

Foi por uma ninharia que não lançamos o olhar na direção salvadora, que não tivemos aquele lampejo de iluminar a face oculta da Lua. Por um triz não conseguimos publicar na hora certa o livro torturado pela gaveta, conquistar o amor longamente cultivado em silêncio e que deixou a sorte passar. Por um triz deixamos de ser a glória que sonhamos e viramos esse pó de armário no canto, quando só anjos pálidos e Deus em pessoa veem, abismados, o quanto somos precários e por isso tão encantadores.

Nei Duclós

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Soneto de carnaval

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Vinicius de Moraes
Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.


Vinicius de Moraes
Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinicius de Moraes

domingo, 14 de junho de 2009


De todos os amores o mais boêmio. De ir à praia numa tarde qualquer da semana, beber vinho olhando o mar, amor às 08:00 da manhã, a necessidade da presença um do outro, a conversa,o cachorro quente de madrugada, o atraso e Deus, quanta quanta insegurança. Mas não existe a necessidade de se classificar nada, estão juntos e isso basta.
E isso se torna cada vez mais necessário conforme o relógio faz seu tic-tac.

Camila Meneghetti

terça-feira, 9 de junho de 2009

A beleza dos versos impressos em livro
-serena beleza com algo de eternidade-
Antes que venha conturbá-los a voz das declamadoras.
Ali repousam eles, misteriosos cântaros,
Nas suas frágeis prateleiras de vidro...
Ali repousam eles, imóveis e silenciosos.
Mas não mudos e iguais como esses mortos em suas
[tumbas.
Têm, cada um, um timbre diverso de silêncio...
Só tua alma distingue seus diferentes passos,
Quando único rumor emm teu quarto
É quando voltas, de alma suspensa - mais uma página
Do livro...Mas um verso fere o teu peito como
[a espada de um anjo.
E ficas, como se tivesse feito, sem querer, um milagre...
Oh! que revoada, que revoada de asas!


Mário Quintana

sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Toda biblioteca é permanentemente perigosa e, embora esteja sempre atrelada a agentes reprodutores da ideologia do Estado, é o espaço que mais pode subverter a produção cultural. É uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento, pois contém o elemento básico para a ação do indivíduo - a informação. Ao ordenar os registros do conhecimento humano, a biblioteca reúne discursos contraditórios e assim se torna uma fonte de conflitos, um ninho de desordem. Explode o dogmatismo de um conhecimento único muito próximo a fé e à verdade absoluta. Passa a incomodar as pessoas com o demônio das possibilidades múltiplas."

MILANESI, Luiz. Ordenar para desordenar: Centros de cultura e bibliotecas públicas. São Paulo: Brasiliense, 1986.