Ela era uma quase bailarina, a poesia completa, a nota final, o último segundo, o suspiro. Tinha o desejo de ter o mundo, mas ter uma parte dele bastava, parte, porque Ele nunca fora inteiro. Talvez por ser covarde demais, dividido entre histórias, assassino de si próprio. Talvez por isso se conhecer seria a morte, talvez ele já tenha morrido e se dividir é um meio de viver em cada pessoa, de sempre existir, de sempre incomodar. Entendem, não bastava fazê-la sorrir uma vez, como não adiantava só uma vez ele ver aquele olhar de admiração, precisava ser sempre, precisava ser só dele, mesmo que seu coração estivesse em várias. Claro que ela tentava, em vão. Mas ao menos tentou uma, duas vezes acabar com as alegrias internas, mas ela não sabia amar despedaçado. Abandonar em algum canto todo aquele sentimento, todo o desejo de dividir o cotidiano e fazer disso uma história real, ela não podia mais viver pelos cantos, guardada para o tempo. Ele se preocupava com isso, a guardava para ter quem conversar de verdade de noite, quando mais ninguém entende sobre o grande mistério de enlouquecer, como os dois vinham fazendo. Era esse grande jogo que a incomodava, as faces desconhecidas que por vezes enxergava nele. No fundo nunca sabia se aquele que a abraçava, a controlava, era alguém de verdade ou se era mais um personagem ensaiado, guardado e usado ás vezes. Ele sabe que um dia vai perdê-la, ela também sabe, mas cuida para não se perder.
Camila Meneghetti
Feito para uma grande amiga