quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ficava sempre assim, recostada na janela, perto das seis horas da tarde. Me disse um dia, que naquele horário o sol tocava nas árvores de maneira fraca, mas iluminadora e o vento balançava cada folha de um jeito doce.
-Mágico.
Foi a palavra que usou para expressar aquele espaço de tempo que vivia diariamente, porém, sempre segurava um livro consigo. Morreu faz pouco tempo, mas conseguiu respirar mais do que todos imaginavam. Achavam-na triste demais, não sei se participo dessa opinião. Eu a achava distante demais, distante desse mundo, das opiniões alheias. Uma vez perguntei, nessa mesma conversa que tive sobre o sol, porque ela se afastara tanto da realidade.
-Perdi tudo de que mais precioso eu continha e com a sua ausência me sobrou o nada. Leio porque não sinto vontade de participar dessa realidade, apenas observo estas vidas passageiras nas páginas. A realidade não me interessa mais. Viajo na ficção pois sei que ali sobrevivo, apesar de sempre existir alguns riscos. Me envolvo demais com os personagens.
-Prefere te afastar das pessoas reais e viver um ilusão?
-Não seja tão cega, querida. O que realmente é uma ilusão? A vida cotidiana com todos esses sentimentos verdadeiros? - Senti uma ponta de ironia em sua voz.- As pessoas aqui se enganam demais, vivem na mentira muitas vezes. Sei que sou uma covarde, mas ao menos frequento inúmeros lugares, onde os personagens por mais perversos que sejam, na sua totalidade são sinceros consigo mesmo.


Camila Meneghetti

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