"Vagou inquieta pelo quarto. Era feriado. Se fumasse, acenderia um cigarro para ficar com ar de pessoa distraída. Mas assim tão sem vícios e portanto sem ter sobre o que derramar a distração que desejava, ai - assim ficava tão solta. Perdeu até o sono, suspirou, como se o sono fosse a sua última reserva de segurança. Isso não é hora pra ler, acrescentou. E estava com preguiça de trabalhar e tinha vontade de falar um palavrão, que merda também. Sem sentir conseguira a distração que procurava. Mas agora que chegava a ela, consciente de que chegara, a distração se esgotava. Fazia-se necessário ir adiante. Mas o que vinha depois de uma distração? Não tinha em que nem como se concentrar. Nunca tivera instrumentos para forçar a atenção num determinado ponto. Era tão pobre. Tão..."
Caio Fernando Abreu
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