segunda-feira, 19 de outubro de 2009

-Mas Elisa, me conte sobre o que sentes.
-De que modo isso me ajudará?
-Quem sabe conhecendo a causa eu te forneça a solução?
-Quem sabe... Porém o que eu sinto é desconfortável, não quero que te machuques também.
-Me fale, nada me martiriza mais do que teus olhos mortos.
-Quem dera fosse só os olhos. Sinto que cada dia alguma parte se desfaz, ontem senti tão amargamente o sabor da dor, que jurei ter me queimado, aqui perto do peito. Foi destruidor. O mundo, naquele instante, me pareceu um sopro. Hoje pela manhã pensei ter acordado sem minhas mãos! Quase virei água de tanto que chorei. O que eu seria sem minhas mãos? Como escrever? Como anotar a vida? Eu iria apenas falar e minhas palavras iriam se perder no vento, minha memória anda tão fraca para que eu as guarde no pensamento. Mas como tu vês. - Elisa mostrou as mãos.- Elas estão aqui.
-Pode ser uma ilusão tuas dores.
Elisa sorriu mansamente.
-Foi sim uma ilusão, ninguém nunca te falou que as pessoas também morrem de ilusão?
-Não fale besteiras.
-Escute, existem tipos que conseguem viver se iludindo, mas não consigo. Por isso que a ilusão vai me matando, dia após dia, um pedaço cada vez. Sabe por que ela faz isso? Para ver se eu mudo de opinião e aceito ela como modo de vida. E todo dia renego, porque a verdadeira morte, escute... Olhe para mim. A verdadeira morte é compactuar com a mentira, ela nos permite não encarar o que dói, o que perfura. Me diga, como você consegue viver superficialmente? Sem formar uma batalha contra ela?
-...
-Eu prefiro morrer do que viver feito boneca de porcelana.


Camila Meneghetti

Um comentário:

Elisa disse...

Intensa.

me encontrei no texto. [literalmente falando também]

:)